Tudo começou com uma Rudge, comprada na Casa Inglesa. Uma Rudge roda 20, com um quadro inovador, já que a parte superior do quadro era convexo. A Velha Rudge, todos os dias me levava a escola, desde o Musseque Marçal onde vivia até a Escola Emídio Navarro. Tinha uns 10 anos e fazia aquele longo percurso, pela Garcia da Horta, Avenida do Brasil, Liceu Feminino, Hospital Militar, Sagrada Família, e depois Brito Godins, eram mais de uma dúzia de Kms. As aulas acabavam à noite e o regresso era penoso já que tinha de ligar o dínamo para ter luz sinalizadora. A Rudge foi sempre uma fiel companheira, parte importante da minha faceta de “Caçador de Meia-Tijela” e de estudante do cajueiro do Kms 14.
Uns anos depois, veio a Maxi Puch, comprada no Stand dos Irmãos Mota Veiga, junto a Gelataria Pólo Norte e da Igreja da Senhora da Nazaré. A evolução era pouca, para além do motor, mas os pedais lá estavam para subir a rampa da Mutamba à Brito Godins. As primeiras Expedições foram feitas com a Maxi Puch, depois de tirar a carta de condução de motociclo com motor. Por norma as Expedições eram sempre para o sul de Angola, Moçâmedes, Benguela e Lobito e muitas à Barra do Quanza e ao Morro dos Veados. Mas também havia provas de velocidade, aos pares, sempre no Parque de estacionamento da Biblioteca Municipal de Luanda, em circuito fechado, com direito a espectadores e tudo, sempre até aparecer a Bófia. Por norma acaba na Padaria para o “Pão Quente com Margarina”, junto aos Correios da Brito Godins, numa Avenida larga cujo nome não me recordo agora. Esta motoreta ficou lá por casa no Bairro de Santo António, pelo menos até Setembro de 1975.
Até que um dia, disse ao meu Pai, “Precisa que viesse comigo a um sítio” e estranhamente acedeu e nada melhor que dizer “Queria que me comprasse aquela “Mota”. Nunca nada foi tão fácil, foi ao balcão e mandou preparar uma linda Yamaha RD 250 de cor azul, com a matrícula ANL-55-59. Começou uma nota etapa de grandes viagens, de Luanda a Nova Lisboa, Luanda a Silva Porto, Luanda ao Lobito, Benguela, Gabela, Novo Redondo, Porto Amboím, Sá da Bandeira e depois na tropa em Nova Lisboa na recruta.
As longas viagens por norma começam quase sempre por volta da meia-noite e atravessava na altura a zona mais problemática de Catete e Golungo Alto, zona de intervenção do MPLA, mas a partir do Dondo até a Barragem de Cambambe era sempre nas calmas até a Quibala e depois com a “espia toda enrolada” nas longas rectas sem fim até ao Colonato da Cela. A Subida do Alto Hama agora era sempre a abrir, qual roncar de motor.
Mas, foi com minha Yamaha, que numa tarde de 1974, depois de uma tarde de treinos na Baía de Luanda em Snipes, que parando na Avenida António Barroso, em casa do meu “Proa”, vi passar a rapariga mais bonita lá da rua e disse ao Billy, “É pá vai ali uma garota toda bonita, conheces? Conheço, disse o Billy. Então vê lá se a convidas para ir logo a noite a Discoteca com a tua irmã. E foi assim que conheci o “amor da minha vida” até hoje.
Esta mota tinha a particularidade de ter um travão da frente muito sensível, sempre que no banco do pendura levava uma “garota”, já que o trava destrava obrigava as “damas” ao encosto fatal no condutor, deixando de haver travão com o braço esquerdo das “donas” para não haver o encosta para lá.
Penso que esta mota ficou numa garagem da minha casa junto ao “Cruzamento descruzado da Saratoga”. A última vez que a vi foi no dia 13 de Novembro de 1975.
Foi a tanto tempo, pessoal…..
“Quando o avião levantou e fez a curva para a direita tive a noção exacta que seria a última vez que veria a minha Terra, Terra em que tinha nascido e Terra que queria ajudar a crescer.”
Comentários
5 comentários a “DA RUDGE À YAMAHA DR 250”
Troca de Mimos
Tens uma maneira muito própria de transmitires o que te vai na alma e, é sem duvida muito bom contares estas passagens ricas da tua vida.
Já no que diz respeito “à rapariga mais bonita lá da rua”…
Bem, bem… quase que fiquei sem ar, conseguiste levar-me até esse dia e recordar todos os pormenores que contribuiram, sem dúvida para um marco das nossas vidas. E ainda dizem que não há amor à primeira vista!!!
Talvez por seres uma pessoa muito especial, o romance perdure.
Beijos
Ora mais uma preciosidade. Adorei muitoooo 😛
Outra bela história, é um prazer ler estes relatos da sua vida.
Quem sabe um dia ainda realizamos uma expedição à sua terra.
Um abraço e um beijinho “à rapariga mais bonita lá da rua” 🙂
Muito bom mesmo é so grandes historias e… grandes amores ehehe
A “rapariga mais bonita lá da rua” deve estar toda contentinha eheheh
Abraços e beijinhos
Espetacular história. Quero mais…