Ui… foi há tantos anos – mais de quarenta -, mas hoje lembrei-me dessa grande viagem, numa visita a alguém que já não posso abraçar, a minha mãe.
O meu espírito de aventura sempre se manifestou desde muito cedo. Porquê? Não sei; mas também não interessa. O que sei é que um dia me lembrei de ir de Luanda a Moçamedes de Maxi Puch, uma ciclo-motoreta com pedais e sem suspensão no eixo traseiro. Mas o que interessava mesmo era ir à descoberta e à aventura: cerca de 3000 kms de ida e volta. A velocidade máxima não podia ser superior a 40 kms por hora – e nas subidas era preciso dar ao pedal ou, quanto muito, embalar.
Saí de Luanda bem cedo, com uma mochila de apoio, três litros de gasolina em pequenas vasilhas da Texaco e com 1000$00 que a minha mãe me deu para os 30 dias de viagem com umas paragens pelo meio.
Mas esta viagem tinha duas ou três grandes âncoras, o Alto Hama, a Serra da Leba e o deserto do Namibe. Por hoje, fico-me pelo Alto Hama. O Alto Hama ficava a cerca de 540 kms de Luanda e tinha (que me lembre) duas particularidades: a nascente termal e a sua subida, longa e acentuada.
A primeira etapa acabava na Quibala, que era um entreposto comercial importante, onde todos os camionistas paravam para reabastecer e dormir. Como disse, saí de Luanda bem cedo e ainda de noite e cheguei a Quibala, já passava da meia-noite. Pelo que me lembro, comi qualquer coisa e dormi junto à Maxi Puch num dos alpendres de uma Casa de Pasto. Bem cedo, muito cedo, arranquei para o Alto Hama para aquilo que eu chamava a etapa maratona, a mais difícil, já que o motor da Maxi Puch não estava capaz de suportar a longa subida: uma subida tão longa exigente, que se dizia que os motoristas das Mercedes, Scanias e Volvos, podiam descer e literalmente “arrear a calça” e, numa corrida, tornar a conduzir a camioneta.
Depois de percorrer o Planalto da Quibala a Cela, a coisa ia começar a complicar-se, já que ao longe se via a “Catedral do Alto Hama” – e a subida lá estava. Já não sei quantos quilómetros mediam a longa subida; sei que era preciso vencer mais esta etapa e nada melhor que parar e pensar numa estratégia.
Assim vi que todos os camiões, a determinada altura, mantinham uma velocidade constante em caixa baixa (em 2ª ou 3ª velocidade) num ronco forte, levando a reboque sempre um atrelado completamente carregado. A descida era feita na mesma; até era feita em menor velocidade, com as descargas constantes dos compressores de ar dos travões.
Estava quase de noite e nada melhor do que passar do pensamento a prática. Arranquei em força, levando o motor da Maxi Puch ao limite, cerca de 50 km/hora até me aproximar de um camião que seguia em esforço num ronco infernal até ao cimo ao Alto Hama. A técnica, perigosa, era “apanhar uma boleia” num dos ganchos do atrelado de um dos camiões e seguir “atrelado” até ao fim da subida, num enorme esforço de braços. Desta vez o motorista não “arreou a calça” e levou-me em segurança até ao tanque de águas quentes e sulforosas para recuperar e descer até a cidade de Nova Lisboa no dia seguinte.
Foi há muito tempo, pessoal…
“Quando o avião levantou e fez a curva para a direita tive a noção exacta que seria a última vez que veria a minha Terra, Terra em que tinha nascido e Terra que queria ajudar a crescer.”
Inté.
Comentários
7 comentários a “A SUBIDA DO ALTO HAMA”
Gosto, Gosto, Gosto, Adorei!!
Belo relato, continue amigo.
Um abraço
RR
Lindo MAN!
Continua S.F.F.
Caro Amigo,
Continua a narração dessas memórias.
Faz bem à alma e a retroceder a um tempo em que não há outra forma de lá voltar.
Abraço
Não percas o embalo!
Abraço!
Lindo!
Agora é continuar e… estamos todos a espera do LIVRO, vá lá…
Abraço
Man, espectaculo!!!
Vamos la a mais um capitulo… 😉
Abraço