Pois é!
Quando tinha uns 12 ou 13 anos nas férias grandes lá ia eu para Malange, passar um mês de férias a casa da minha irmã Maria do Carmo. Era a mais velha e a única rapariga. Estava em Malange porque o marido era Engenheiro Agrónomo e após acabar o curso na Metrópole, foi para Angola estagiar sobre o cultivo e produção de algodão, na Cotonang se bem de recordo.
Malange era uma cidade moderna, com ligação rodoviária e ferroviária a Luanda, por comboio e automotora, A automora era mais rápida, saía de Luanda as 8.00 horas da manhã, parava na Canhoca para o almoço e chegava as 17.00 horas a Malange. Era uma viagem porreira.
Eu gostava bués de Malange, tinha bons parques, bons campos para a prática de desporto e sobretudo uma Rádio famosa, o Rádio Clube de Malange, altamente para a época, muito a frente podem crer.
Mas Malange tinha um Corte Inglês “Os Grandes Armazens Planalto”, vendiam de tudo qual Paris, um tipo podia entrar nu e sair com o melhor fato e num bom carro.
Bem eu gostava mesmo de Malange e ainda hoje recordo os meus amigos do Bairro do Ferrovia, lá para os lados do velho hospital e junto a cadeia.
A minha mana dava aulas na Escola Industrial e o meu cunhado trabalhava no Instituto de Algodão de Angola – IAA -, que controlava toda a Baixa de Cassange, uma das maiores depressões de Angola com cerca de 90 000 kms2 e mais de 35000 agricultores nativos.
Ah pois, no IAA, havia bués de Land Rovers e sempre que ia a Malange lá ia eu com o meu cunhado ver as plantações de algodão, eram milhares de hectares de tudo branco, tudo algodão.
Então cada viagem em autonomia total tinha a duração mínima de uma semana, lá iamos nós, num série II Truck Cab, com 200 litros de gasóleo atrás, alguma comida pelas picadas de Malange quase até a Lunda, com passagem por Xa Muteba, Tembo Aluma, Lureno e Milundo, onde um Chefe do Posto simpático nos dava guarida.
Em Milundo havia uma nascente de água importante, no fundo Milundo tinha o Posto Administrativo a direita no fundo do lugar e no cimo a Casa do Administrador, imponente, com os belos alprendres.
Eram muitos kms de pistas, atalhos, lama e trilhos, mas sempre a curtir, a uma velocidade certa por causa da chapa ondulada da pista ou trilho.
Mas o bom era de noite, ligava-se o farol de caça e picada fora a procura de uma gazela, pacaça, palanca ou hiena.
Eu era o “faroleiro” de serviço e quando se via no escuro da noite um brilho , lá estava uma peça de caça. O Meu cunhado parava o Land , apontava a carabina e com sorte tinhamos carne fresca para uns dias. No dia seguinte de manhã paravamos ao pé de uma sanzala, os nativos esfolavam o animal, nós ficavamos com uma carne para cozinhar e quase toda a peça ficava para eles comerem.
Por norma , dormiamos em armazéns da Cotonang ou em pequenos comércios que existiam no meio do mato junto a alguma povoação ou lugar.
Nestes pequenos comércios adorava comer um arroz de peixe seco, era picante mas saboroso.
Pois foi asim que comecei a gostar de aventura e dos Land Rovers.
Era bonito ouvir aquele barulho certo e afinado do Land Rover série II, adorava ver o amarelo e vermelho da ficha de ligação do farol e não só bem como do acelerador de mão, era bués de fixe.
Na foto em 1970 a caminho de Moçamedes para um Campeonato Provincial de Vela.
Este texto não foi editado.
Comentários
3 comentários a “COMO COMECEI A GOSTAR DE LAND ROVERS”
Imagino a vontade de quereres recuar no tempo!!!
Eu sem lá ter estado, “sinto a saudade”…
Grande abraço e
Obrigado por partilhares com todos, esta tua experiência de vida
Estas histórias fazem-me levitar!
Melhor do que estar a ler isto e na impossibilidade de as viver, só será mesmo melhor ouvir!Vou-te “cobrar” isso mais tarde ou mais cedo!
É destas vivências que se constrói uma VIDA!
Estou-me a referir não em particular a este relato mas a estes últimos que partlhaste connosco!Obrigado Mestre!
ONE LIFE. LIVE IT.
Boa Noite
O meu Pai teve uma Fazenda de Algodão e Girassol na Baixa de Cassange, era o Palma Guerreiro. Eu nasci em Malange….Espero voltar um dia, para poder rever a terra que me viu nascer…