Boas.
Desde há uns tempos que ando a ganhar coragem para relatar a minha odisseia, que foi a Grande Expedição Lisboa a Luanda em Todo Terreno. Já lá vão quase 15 anos.
Quando soube da morte do Homem forte do Geoclube do Porto, o João Moutinho (que era um aventureiro por paixão) e quando soube que deixou um livro escrito sobre essa viagem interrompida algures no Mali (que aguarda por editor), não queria deixar de escrever aqui um testemunho do Pitrigrili.
“
Em 1992 tentei voltar a Angola por terra.
Por altura das eleições em Angola, foi organizada uma expedição Lisboa-Luanda. Como estava integrado numa equipa de competição todo-o-terreno, conseguimos juntar os patrocínios necessários para financiar a aventura, que seria filmada e transformada num documentário a ser exibido na RTP.
Atravessada a Argélia, ficámos retidos três dias no posto fronteiriço de Tin-Zawatine. Para além de todo o dinheiro que nos conseguiu extorquir, o capitão que comandava o posto estava decidido a “disfrutar” de todas as mulheres da caravana… o que não o deixámos conseguir, claro.
Enquanto esperávamos pela autorização para atravessarmos para o Mali, o chefe da expedição decidiu contactar com um dos chefes dos tuaregues da zona. Jantámos com ele num restaurante típico. Deu-nos salvo-contudos para que pudessemos atravessar a zona com segurança e comunicou-nos que passaríamos por três controlos antes de chegarmos a Kidal, que era a nossa próxima paragem.
Partimos às 5 da manhã do dia 2 de Abril, e uma hora mais tarde éramos parados junto a um antigo fortim colonial. Após duas horas de espera, mandaram-nos prosseguir.
Entrámos numa zona montanhosa, pedregosa. Numa curva para a esquerda, lá estava uma dúzia de tuaregues todos com Kalashnikovs, alguns vestidos com camuflados. Roubaram-nos dez jipes e umas 3 motos.
É interessante que desdenharam os UMM, apenas quiseram os Toyotas e Land-Rovers… e as câmaras de vídeo e fotográficas.
Descarregaram dos carros toda a comida e bebida, bem como roupas… Para quem tradicionalmente está sempre com fome e frio, foi estranho…
Foi o primeiro controlo. Nos outros dois roubaram-nos o dinheiro e lá se tiveram que contentar com um par de UMMs…
Como vimos em Kidal e em Gao, o Mali é de facto uma terra pobre. Não por lá ter passado algumas vezes o Paris-Dakar, mas por ninguém por lá passar. Do rali, as populações do Mali só nos falavam de saudade, nem uma voz de recriminação. Todos nos perguntavam se podiam ter esperanças em a caravana do Paris-Dakar voltar num futuro próximo.
Não voltou, e o Mali, apesar de todos os proclamados cessar-fogos entre as tribos tuaregs e o governo, continuará adormecido até que um rali ou outro acontecimento de massas semelhante o ponha de novo em contacto com o mundo”.
Agora vou fazer força para que o livro seja editado.
Quando tiver coragem, continuo.
Reportagem do Diário do Minho
Tempestade de Areia no Tenerée- Argélia
Depois do 2º assalto e em coluna militar entre Kidal e Gao
Coluna militar e atascanço da Mercedes 6×6
Comentários
3 comentários a “I EXPEDIÇÃO LISBOA A LUANDA EM TODO TERRENO – 1992”
Caramba!!!!…
E como sou novato nisto do TT, tou agora a começar a perceber o porquê de “O Mestre”…
Realamente esse livro tem de sair..
Lembra-me de num almoço na Lousã o mestre contar essa odisseia em breves palavras.
Sei que tem vontade de lá ir.. e agora tem mais um motivo…
Tem de ser fechar essa página e fazer o II volume
agora com “A expedição, 15 anos depois”
abraço
Parabéns Mestre, pelos EXCELENTES documentários!!
Grande Abraço!