As novas gerações de dispositivos GPS já não podem ser entendidas como um simples recetor de GPS, mas antes uma arquitetura de localização, dotada firmware e software que os dotam de sensibilidade melhorada para as zonas exteriores e interiores (zonas urbanas, fundamentalmente), mais resistência às interferências causadas por outras tecnologias sem fios, baixo consumo e tecnologia miniaturizada.
Os novos processadores SiRFstar, por exemplo, estão já associados a sensores MEM, de modo a melhorarem o posicionamento, especialmente em zonas interiores (situações de indoor). Sistemas como os TomTom ou Ndrive já nos habituaram a recorrer a atalhos para evitar zonas de tráfego congestionado ou a criar alternativas para vias com portagem.
Seguindo esta tendência a Microsoft patenteou a 3 de Janeiro (http://patft.uspto.gov/netacgi/nph-Parser?Sect1=PTO1&Sect2=HITOFF&d=PALL&p=1&u=%2Fnetahtml%2FPTO%2Fsrchnum.htm&r=1&f=G&l=50&s1=8,090,532.PN.&OS=PN/8,090,532&RS=PN/8,090,532) uma nova funcionalidade de cálculo e apresentação de rotas aos utilizadores. Oficialmente denomina-se “Pedestrian route production”, entre a comunidade “Avoid Ghetto”. De acordo com informações prestadas pelo próprio fabricante esta funcionalidade destina-se a ajudar o utilizar a evitar aquilo que podemos denominar como “vizinhança perigosa”, más condições climatéricas ou até “geografias perigosas”.
Trata-se de uma funcionalidade criada especificamente para smartphones equipados com processadores GPS e que passa agora a considerar, ao nível dos algoritmos de geração de rotas, com informação meteorológica ou até estatísticas locais de criminalidade. Apesar de útil para um automobilista, foi desenvolvida a pensar no pedestre, aquele que viaja a pé e mais exposto aos perigos do outdoor.
A Microsoft tenciona implementar esta funcionalidade nos dispositivos baseados em Windows Mobile e produzidos pela HTC, Samsung, LG e Nokia (geração Lumia).
A avaliar pela reação do público norte-americano logo após o anúncio da funcionalidade, um país já de si com uma consciência de Nação deveras sui generis e onde as minorias possuem de facto um peso enorme ao nível da sociedade e da noção de pertença (ou não) à mesma ao ponto de influenciarem ao nível escolar o estudo, não de uma, mas de várias “histórias”, estalou logo a polémica e acabou enredada em questões raciais. Aliás, é mesmo mais conhecida como a funcionalidade “Avoid Ghetto”.
No entanto se pensarmos um pouco mais sobre os algoritmos de análise que enformam tal funcionalidade, especialmente quando associadas a algumas noções típicas da cultura pop ocidental, como por exemplo o “pré-crime” (mais conhecido através do filme Minority Report) , existem de facto razões para desconfiança, senão preocupação. Segundo os porta-vozes da empresa de Redmond a funcionalidade “Pedestrian route production” contém um aspeto de retenção e consolidação da chamada “história pedestre”, ou seja o armazenamento no tempo dos trajetos efetuados por uma pluralidade de utilizadores. Compõem, por assim dizer, um “comportamento tipo” e sobre ele funcionam modelos de análise preditiva que se destinam então a inferir uma rota.
Esta variável (ou se quisermos, predictor), já de si polémica face às questões da privacidade, é ainda combinada com outra: classificação da fonte de informação. E neste particular ninguém ainda conseguiu explicar como serão resolvidos potenciais “conflitos” entre as fontes para ajudar a gerar a “melhor” rota, nomeadamente aqueles que derivam de interesses económicos, sociais ou até políticos!
Comentários
2 comentários a ““Avoid Ghetto”: uma nova funcionalidade nos dispositivos GPS?”
Cada vez mais, “GPS” é sinónimo de Gente Permanentemente Seguida…
Aliado ao controlo dos cartões bancários, de desconto, das redes sociais na internet… tudo junto, resulta na maior perda de privacidade legalizada e consentida da história da Humanidade.
O Zé tem razão, qualquer dia somos telecomandados até para ir a sanita.
Será que isso nos leva a lagum lado? Fica a pergunta.
Inté