BaseCamp: dicas de utilização

Apesar de ter sido lançado no início de 2009 (mais concretamente a 14 de Janeiro), portanto, há três anos, o BaseCamp ainda consegue apresentar-se como uma aplicação opressiva para aqueles utilizadores mais habituados ao MapSource, quer no que toca a conceitos como ao modo como gere os ficheiros de dados. E, devo confessar, que também eu próprio também me incluí durante algum tempo nesse grupo de utilizadores.

Como espero demonstrar mais à frente o BaseCamp não pode ser visto como o MapSource sob um novo nome ou uma simples atualização. Aparentemente semelhantes, são diferentes em muitos (e importantes) aspetos, o que só aumenta a frustração dos utilizadores mais experientes em Mapsource.

O BaseCamp hoje.

A ferramenta BaseCamp oferece ao utilizador todo um conjunto de facilidades na manipulação de mapas e organização de dados.

Assim, o BaseCamp permite aos utilizadores representar os mapas a 2 e 3 dimensões (respetivamente, 2D e 3D), incluindo perfis de elevação, bem como rodar o mapa em qualquer direção, sem estar sempre confinado à orientação Norte.

O modo de representação em 3D está, no entanto, limitado a placas gráficas com suporte para a API OpenGl (Open Graphics Library).

As rotas (routes), trajetos (tracks) e pontos de interesse (waypoints), por seu lado, são armazenados na “Biblioteca”, e organizados em listas / pastas. Esta forma de gestão da informação, que podemos encontrar paralelo no software iTunes, apresenta a ferramenta ao utilizador como um “contentor” das suas atividades, capaz de as gerir e de as partilhar (agora, através da nova plataforma Garmin Adventures).

Como veremos mais à frente, este último ponto apresenta grandes vantagens sobre o MapSource, não apenas do ponto de vista de organização da informação a representar na cartografia, mas também no que toca à criação de ficheiros de salvaguarda (utilizáveis em operações de backup e restore).

Atualmente, o BaseCamp é a única ferramenta de criação e gestão de rotas, trajetos e pontos de interesse que possui um desenvolvimento activo por parte da Garmin (à data, versão 4.0.1.0.). E se o quisermos comparar com o Mapsource, cujo desenvolvimento terminou em 2010 com a versão 6.16.3, as vantagens a enumerar (descontando as já atrás apresentadas) são grandes e concerteza devem ajudar-nos a mudar:

  • Impressão “decente”;
  • Acesso direto aos mapas instalados nos dispositivos GPS;
  • Capacidade de sincronização com dispositivos GPS,
  • Georreferenciar de fotografias;
  • Suporte de Birdseye Imagery (imagens de satélite de alta resolução);
  • Perfis de personalização das rotas.

Não obstante possuir requisitos de instalação e execução mais “pesados”, o tipo de arquiteturas tecnológicas utilizadas internamente (em MS Windows baseia-se na plataforma de desenvolvimento .NET) permitem-lhe gerir de modo muito mais eficiente os recursos (fundamentalmente, memória RAM e  memória virtual a paginar em disco rígido) dos equipamentos. Basta carregarmos um mapa mais pesado (possuidor de DEM, por exemplo) e com o nível de detalhe mais elevado, numa máquina algo limitada em memória (do tipo1/2 Gb de RAM). Verificamos rapidamente que, face ao MapSource, as diferenças de fluidez na deslocação/ampliação do referido mapa, ou o carregamento/visualização de ficheiros de dados são substanciais, para além de que não consome com o tempo todos os recursos (memória/processador) da máquina.

Este desenvolvimento do BaseCamp tem ainda a vantagem de ser multiplataforma, o que alarga substancialmente a comunidade de utilizadores. Para já estão abrangidos os sistemas operativos MS Windows e Mac OS, perfilando-se para um futuro próximo (a acreditar nos fóruns de desenvolvimento do próprio fabricante) uma versão para dispositivos móveis (smartphones e tablets com iOS).

A utilização de perfis de atividade.

A diversificação do Mercado de dispositivos GPS, constatável quer ao nível de funcionalidades como de serviços fornecidos, a par do alargamento do espectro de consumidores e das suas atividades terrestres, conduziram a Garmin a novos conceitos e abordagens quanto à questão do denominado “planeamento de viagem”. Já em 2010 e durante as fases beta (que antecederam o lançamento), a Garmin propunha-se através do BaseCamp desenvolver uma maior afinidade:

  • Do utilizador com o dispositivo GPS;
  • Da aplicação com o tipo de atividade (walk-up and use).

O conceito de perfil de atividade é um destes exemplos. Está disponível não apenas para o BaseCamp, mas também nos dispositivos GPS mais recentes (caso dos modelos Montana ou GPSMAP, que as designam como “profiles”).

A primeira questão que nos “assalta” será, com certeza, a seguinte: em que é que estas atividades me podem ser úteis? Muito simples, todo o trabalho de preparação de uma viagem, expedição ou passeio deve partir do tipo de atividades que nelas estarão envolvidas.

Por omissão, o BaseCamp define 11 das atividades terrestres mais comuns. Cada uma contém parametrizações específicas quanto ao modo de visualização do(s) mapa(s) e algoritmo de cálculo de rotas. Todas elas são passíveis de afinações por parte do utilizador. Mais, um utilizador pode mesmo criar o seu próprio perfil de atividade.

Assim, posso perfeitamente parametrizar o BaseCamp de modo a que quando estou a planear uma atividade do tipo “Automotivo” ou Motociclismo” não sejam visualizadas as curvas de nível de um mapa do tipo Topo. Ao passo, que se alterar para a atividade “Caminhada”, as mesmas passam a estar visíveis.

E, quantos de nós até agora não partilharam já uma mesma rota, tendo os dispositivos GPS apresentado diferenças significativas na forma do cálculo?

Editar um perfil de atividade afeta as rotas e, por consequência, as suas propriedades internas. Agora, e devido a esta funcionalidade, uma rota é, não apenas exportada com os pontos de passagem que a compõem, mas também com as preferências utilizadas para o seu cálculo (e, à partida, importadas a partir de um perfil de atividade, ou definidas diretamente). Trata-se, de facto, de um dado importante que vem obviar às inconsistências no cálculo da rota por parte dos dispositivos GPS mais recentes, uma vez que também eles incorporam perfis.

 

Organizar informação (em listas e pastas).

 

Ao abrirmos o BaseCamp, e tendo o dispositivo GPS ligado ao PC, verificamos rapidamente que podemos trabalhar diretamente com informação residente em três locais:

 

  • Biblioteca, que armazena os dados criados pelo utilizador sob a pasta “Minha coleção”.
  • Dispositivos (Memória Interna). Como exemplo, está ligado um GPSMap 60csx.O BaseCamp irá listar o ID da unidade, permitir visualizar os mapas pré-carregados na memória interna do dispositivo (dado nem sempre claro para o utilizador, pois, o mapa pode existir mas estar “escondido”: http://landlousa.wordpress.com/2012/01/23/dicas-soltas-aceder-directamente-aos-mapas-do-dispositivo-gps-basecamp-1/), bem como os objetos do tipo rota, trajeto ou pontos.
  • Dispositivos (Cartão de Memória). Os dispositivos GPS mais recentes dispõem quase todos eles de suporte para cartões de memória (na sua esmagadora maioria microSD). Daí a visualização da pasta “Dados do usuário”.

 

A aproximação desenvolvida para gerir esta informação é completamente diferente daquela utilizada pelo MapSource. Assim, o MapSource é uma aplicação centrada em ficheiros (ou se quisermos, em documentos), bem expresso na existência de um tradicional menu “Ficheiro”, e que requer por parte do utilizador que a organização da informação seja totalmente levada a cabo fora da aplicação. Ao invés, o BaseCamp, gere a informação como se integrasse uma base de dados, pelo que aquela deverá (ou, pelo menos, poderá) ser organizada no interior da própria aplicação.

Os dados são automaticamente armazenados e as alterações registadas, colocando-nos à partida “a salvo” de um inesperado encerramento (shutdown).

Sob a pasta “Minha coleção”, na raiz, é possível, depois, organizar os dados em novas pastas e/ou listas. A designação destas últimas deverá ter base o evento ou atividade a desenvolver. E, dado que estamos a lidar, para todos os efeitos, com algo próximo do de uma base de dados, as listas devem ser consideradas como entidades lógicas de agregação dos dados (daí um paralelo em base de dados com o conceito de view ou consulta) e não físicas: uma lista não contém dados, contém antes apontadores para dados que residem sob a pasta de raiz “Minha coleção”.

Este conceito é muito importante, pois, só assim percebemos o facto de, à partida, os objetos serem partilhados por listas e não duplicados: as alterações operadas sob um trajeto a partir de uma hipotética lista “A” estão necessariamente refletidas quando lhe acedemos a partir da lista “B”.

Testemos os conceitos num caso prático: expedições, todo-o-terreno, Marrocos, os guias do Gandini e os guias do Chris Scott (ok, os suspeitos do costume!). No BaseCamp, procuro, por norma, organizar a informação por fontes e, nestas, por tipo de evento e data.

Uma estrutura como a que imagem anterior exibe permite-me segmentar a informação a exibir num mapa e, estando a preparar uma nova expedição, reaproveitar ou combinar mais facilmente os “segmentos” que mais me convêm. Assim, bastará arrastar, por exemplo, a pista que liga Dakhla à Duna Branca e realizada em 2012 pela Land Lousã para a lista da expedição em preparação, combiná-la depois com os pontos do tomo VI do Gandini, referentes ao trajeto que liga Tichla a Aoucerd, ou ainda os pontos referentes ao trajeto MW6 do Chris Scott, que liga Smara a Assa.

Novos pontos de interesse, rotas ou trajetos? O utilizador dispõe sempre da possibilidade para os criar direta e autonomamente, ficando automaticamente associados à lista.

A lista que agora concentra os dados a utilizar na nova expedição é facilmente instalada no dispositivo GPS. Basta arrastar e largar (operação de drag and drop). E, se pretendermos enviá-la a um amigo, como um ficheiro autónomo (nos formatos GPX ou GDB), seleciona-se primeiro a lista, posicionando o ponteiro do rato sobre a mesma e premindo o botão esquerdo, acede-se de seguida ao menu “Arquivo” e finalmente ao comando “Exportar”.

Caso o utilizador opte por enviar a lista para o cartão de memória do dispositivo GPS, é criada, caso não exista, uma pasta de nome ”GPX”, sob a pasta de raiz “garmin”. Naquela, serão colocados tantos ficheiros quantos os tipos de objetos exportados:

  • Route.gpx;
  • Track.gpx;
  • Waypoints.gpx.

Com o tempo e o natural crescimento dos dados é perfeitamente possível que o utilizador perca a noção onde aqueles são utilizados ou qual a sua origem. Tais dependências de objeto podem ser obtidas a qualquer momento: basta abri-lo e aceder ao separador “Referências”.

Os utilizadores de BaseCamp sobre Mac OS dispõem, nesta matéria, de uma outra funcionalidade, face aos utilizadores das plataformas MS Windows: a existência de “smart lists”. Tratam-se, na verdade, de filtros aplicados a tipos de objetos ou a objetos que partilham características (por exemplo, pontos referentes a postos de combustível ou a parques de campismo), e que são atualizados automaticamente sempre que o utilizador insere nova informação no BaseCamp.

Operações de salvaguarda e restauro (backup e restore) da informação.

Um dos aspetos-chave em qualquer aplicação reside na sua capacidade para armazenar corretamente os dados que gere.

 

O Basecamp, neste domínio, oferece ao utilizador as seguintes operações:

 

  • Copiar os dados do dispositivo (memória interna/cartão de memória) para a Biblioteca do BaseCamp;
  • Enviar dados da Biblioteca do BaseCamp para o dispositivo (memória interna/cartão de memória);
  • Exportar dados selecionados da Biblioteca para um ficheiro no Computador (nos formatos GPX ou GDB);
  • Importar dados de um ficheiro no Computador para a Biblioteca do BaseCamp;
  • Criar um cópia de segurança da base de dados do BaseCamp (menu “Arquivo” > comando “backup”);
  • Restauro da base de dados do BaseCamp a partir de uma cópia de segurança (menu “Arquivo” > comando “restaurar”).

 

As cópias de segurança (.backup) são na realidade ficheiros compactados (formato ZIP) das pastas onde se localiza a base de dados:

 

  • Em plataformas MS Windows 7 e 8:
    C:\Utilizadores\{user id}\AppData\Roaming\Garmin\BaseCamp\Database
  • Em plataformas MS Windows XP:
    C:\Document and Settings\{User ID}\Application Data\GARMIN\BaseCamp\Database

 

Se modificarmos a extensão da cópia de segurança de “.backup” para “.zip” é possível inspecionarmos o seu conteúdo e procedermos ao restauro de forma manual

O que evitar quando se começa a utilizar BaseCamp.

Aqui estão algumas sugestões sobre o que não fazer logo que se começa a trabalhar com o BaseCamp. Devo dizer que têm por base erros próprios:

  • Não importe todas as rotas criadas em MapSource, só porque é fácil fazê-lo. É sempre preferível redesenhar uma rota de raiz no BaseCamp ou importá-la de forma discreta e à medida das necessidades, de modo a ser trabalhada. Uma rota importada do MapSource não contém qualquer informação interna sobre os perfis de atividade que servem de base ao seu cálculo, uma vez exportada para os dispositivos GPS. Aliás, este é mesmo um dos problemas mais reportados nos foruns por quem começa a trabalhar com o BaseCamp.
  • Não ligue o dispositivo GPS e importe toda a informação para o BaseCamp. Agora é possível aceder diretamente ao dispostivo como uma fonte de dados (mapas, trajetos, rotas e pontos). Basta arrastar os objectos necessários ao trabalho. Tal operação pode até constituir uma forma simples e primitiva de realizar um backup à informação do dispositivo.
  • Não instale demasiados mapas no dispositivo GPS, pois, não apenas piora o seu desempenho como pode ainda exceder a sua capacidade. Sempre que pretendemos instalar mapas com os pontos, rotas e trajetos de uma atividade, o BaseCamp executa uma aplicação autónoma: o MapInstall. Esta aplicação tem um funcionamento  muito idêntico ao da “ferramenta de mapa” do MapSource. Assim, à medida que selecionamos segmentos de um mapa, o MapInstall vai marcando graficamente a área a transferir. O problema que se coloca aqui é que o MapInstall permite instalar tantos segmentos quanta a memória disponível no dispositivo, mesmo que estes ultrapassam o limite de segmentos que cada dispositivo possui internamente. Por exemplo, um Garmin Montana 650 tem um limite interno de 4000 segmentos. Se o excedermos, aquele que possuir uma prioridade mais baixa não será visualizado, sem que o utilizador receba qualquer notificação.

 

Em jeito de conclusão, vale a pena o esforço de adaptação ao BaseCamp? Devo mudar do MapSource para o BaseCamp?

Parece que sim e as razões mais válidas são, em meu entender, estas:

  • É a uma única aplicação de planeamento de atividades de outdoor com desenvolvimento e manutenção asseguradas pela Garmin, o que lhe garante no futuro estabilidade sobre alterações em ambientes de sistemas operativos e correções de erros críticos;
  • Exibe uma maior afinidade com o software  e as formas de trabalho dos dispositivos GPS mais atuais;
  • Os dados são geridos de forma centralizada e integrada, no seio da própria aplicação, e não necessitam de gestões complementares de ficheiros;
  • Lida, de igual modo, com vários formatos de dados;
  • Assegura o armazenamento automático dos dados inseridos e/ou editados pelo utilizador;
  • Tem a capacidade de aceder e gerir um dispositivo GPS como uma fonte de dados, similar à sua “Biblioteca”.

Comentários

2 comentários a “BaseCamp: dicas de utilização”

  1. Boas.
    Obrigado pela partilha.
    Carlos Costa
    Oeiras

  2. Viva,
    Antes de mais parabéns pelo excelente artigo publicado, que está com muito detalhe e precisão.
    Eu próprio andava renitente à mudança do MapSource para o BaseCamp, mas depois do que acabo de ler não me restam dúvidas nem outro caminho que o da iniciação urgente no BaseCamp.
    Para quando um workshop sobre o BaseCamp?
    Obrigado.
    Cumprimentos,
    L. Sousa