FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS – 5.º

Baixa de Cassange, Angola 1964(5)

A Baixa de Cassange era uma das mais importantes zonas para o cultivo de algodão, controlada pela Cotonang. Era uma importante depressão com mais de 80 000 km2, com forte apetência para o cultivo de algodão. Segundo relatos da zona o nº de agricultores era superior a 30 000.

Milundo, era um posto administrativo mais avançado numa zona com fortes consulções da era da Guerra Colonial, mas isso agora não interessa para aqui.

O Posto de Milundo, era uma enorme casa branca numa zona em que a água brotava a jorro da terra, era impressionante ainda hoje me lembro de ver a areia quase que a ser expulsa pela água de buracos de formiga.

O soba da zona, tinha convencido o meu cunhado a fazer uma caçada a noite, com a ajuda de uma grande queimada de modo a cercar as pacaças, palancas ou antílopes.

Ao final da tarde o Land Rover Série II 88, ainda com os faróis no meio, passava para as minhas mãos e o farolim não parava de rodar em busca de uns olhos brilhantes no meio do mato.

Quase a noite os homens de Milundo, com arcos de flechas, sandálias de mato entrançado ou de sola de um velho pneu,  corriam num grande círculo com vários hectares lançando uma grande queimada, para espantar a caça.

Outros, armados com lanças e arcos com flechas com veneno, procuravam todo o tipo de caça para alimentar a as populações.

Quase ao raiar da manhã, acabava a caçada, controlado que estava a queimada e dividia-se a caça, que era recolhida no capot do Land Rover em mais de uma viagem.

Durante a queimada/caçada eram cantados cânticos, batiam com as pernas no chão com anéis de metal para o barulho ser maior, para espantar a caça.

A Baixa de Cassange foi em 1961, alvo de umas maiores “massacres” da população, por terem na altura, feito greve a plantação de algodão o que marcou a Baixa de Cassange com um dos símbolos da resistência.

Lousã, 49 anos depois….