Corria o ano de 1974, e pelas 4:00 horas da madrugada lá estava eu a fazer os ensaios de carga das estacas que suportariam a estrutura do novo Hospital de Luanda quando chega ao pé de mim o Engenheiro Mendes, responsável pela Sondadora, uma empresa responsável por fundações especiais em estacaria e paredes moldadas no solo e me diz “Parola, ouve um golpe de estado em Portugal”. Depois foi a mudança radical, primeiro em passos envergonhados depois atrapalhados.
De manhã cedo quando fui para as aulas quase que não se ouvia falar de golpe de estado e muito menos de revolução, o sinal rebentou no Bar da Associação de Estudantes, quando o Zeca Afonso, o Correia de Oliveira, o Zé Mário Branco, o Fanhais e o Paulo de Carvalho abriram as hostilidades. Nunca a música tocou tão alto e sem medos.
Corria em Portugal a reforma de ensino de Veiga Simão que sofria os atrasos próprios do regime mas que não se estendia ao Ultramar.
Em meados de 1974, um grupo de alunos e professores progressistas, entendeu por bem dar uma volta ao ensino dos Institutos Industriais. Desse grupo fazia parte o Engenheiro Magalhães, o Engenheiro Costa Lobo, o Amaral, o Zé Pedro, eu próprio e muitos outros.
Começavam a chegar a nova elite de licenciados da Universidade Patrice Lubumba na União Soviética e outros de Cuba e da Republica Democrática do Congo.
Começava a louca correria de planos de estudo, de planos curriculares, de cargas horárias, sei lá uma imensidão de coisas que ocupava o pessoal em exclusividade.
Na altura não havia internet e faxes cadê deles, mas nada fazia desistir o pessoal.
Em Portugal Continental os estudantes andavam a trouxada e com passagens administrativas e por lá tudo empenhado na grande reforma.
Toma posse o Governo de Transição chefiado por um grande Senhor o Professor Doutor Mário Vieira de Almeida e o Ministro da Educação era da Unita, o Doutor Januário Wanga, uma pessoal afável, com um trato educado e sempre muito atencioso. Tinha tirado o curso de geologia na Bélgica e estava dentro dos sistemas de ensino menos elitistas.
Numa azáfama desenfreada de consulta de cursos nomeadamente do MIT, da Bélgica e da Suíça, foi possível com ajuda de um importante especialista que trabalhava na reforma do ensino cá, avançar para um ensino moderno, prático e adequado a realidade do futuro País.
A família Guerra Marques, excelentes professores da Universidade de Luanda deram uma ajuda na elaboração dos planos curriculares, em que as cadeiras de Computadores, Análise Matemática e Física tiveram um peso importante no 1.º ano do curso, ou mais concretamente nos primeiros três semestres. a Resistência de Materiais, a Mecânica de Solos, a Hidráulica Aplicada e o Projecto passaram a estar presentes.
Dentro do prazo estabelecido pelo Ministro da Educação do Governo de Transição entregamos o nosso trabalho dentro do prazo e em Junho ou Julho de 1975 era aprovada a 1.ª Grande Reforma em Angola.
Fomos muitos os que colaboraram empenhadamente no processo, mas cabe ao Engenheiro Magalhães todo o mérito de gerir a Reforma em época de revolução.
Fiz muitas viagens com ele a Nova Lisboa para apresentar a Reforma, era um homem exigente e duro a negociar.
Todos os que tornaram possível esta Reforma de Ensino que ainda hoje perdura pela inovação e consistência dos Programas, o meu Obrigado. Foi a Reforma que me permitiu deixar um Programa obsoleto e entrar num Curso competitivo, moderno e eficaz, conforme a minha vida profissional o demonstrou.
Fiquem Bem.
Mungo ué.
PS: A Professores como Professora Maria Amélia, Engenheiro Costa Lobo, Engenheiro Maia, Professora Gina, Professora Maria Emília, Professor Mineiro, vulgo “Batatoíde”, Engenheiro José Augusto e ao Professor de Betão e Estruturas o Engenheiro Rufino, devo a minha formação como homem e técnico.
“Quando o avião levantou voo e fez a curva para a direita tive a noção exacta que seria a última vez que veria a minha Terra, Terra em que tinha nascido e por opção Terra que queria ajudar a crescer.”