FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS – 11.º

Como em todos os meus Fragmentos de Memórias, aqui também a data pouco importa, mas talvez seja importante agarrá-la ao tempo. O tempo já foi há muitos anos, cerca de 39 anos de um dia de Setembro de 1975.

Mesmo na anarquia da guerra civil, os serviços funcionavam ainda embalados pela inércia das funcionalidades administrativas da velha máquina colonial.

Numa manhã como as outras, dirigi-me aos SMAE, (Serviços Municipalizados de Água e Electricidade) de Luanda, lá para os lados da Casa Americana e quase ao pé do Estádio dos Coqueiros, havia uma fila enorme, para pagar a água e a luz. A fila estendia-se em direcção a rua de acesso ao Estádio, com enorme confusão, pois ninguém queria ficar tanto tempo a apanhar “seca”.

Depois de quase um hora, na fila, um Grupo de pseudo tropas de um dos Movimentos que lutavam por controlar a cidade, avança para os “pagantes em fila de espera” e de modo aleatório e de dedo em riste, larga a frase “colonialista de merda, quantos mataste?chegou a tua hora”.

Tenta-se manter a calma e sobretudo conter a afronta, contando com o pessoal da fila, que a todo o custo, tentava acalmar as pseudo tropas, que não desistiam e ameaçam “com julgamento popular, queremos justiça popular”.

A confusão é enorme, gera-se um enorme burburinho e o mais importante era sair dali, o mais rápido possível. Bem perto havia uma das maiores e melhores livrarias de Luanda a Argent Santos, imponente, moderna, num edifício de esquina todo envidraçado, que naquele instante serviu para de uma forma segura, ficar resguardado e mais tarde voltar para a fila e pagar o que se devia………Mais situações similares passaram a ser o dia a dia próprio de uma guerra civil violenta com uma revolução pelo meio….

“Quando o avião levantou voo e fez a curva para a direita tive a noção exacta que seria a última vez que veria a minha Terra, Terra em que tinha nascido e por opção Terra que queria ajudar a crescer.”