I EXPEDIÇÃO LISBOA A LUANDA EM TODO TERRENO – 1992 – CONTINUAÇÃO 2

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Dia 25 de Março de 1992
Pois é, cá vou continuar agora que me decidi a isso.
Como já referi a tempestade de areia fez das suas, houve pessoal que optando por uma rota diferente, criou problemas ao Villas Boas e ao retso do pessoal.
A anarquia era tal que após longas horas de tempestade em que se cozinhava dentro do UMM, e até se dormia, de manhã quando aimainou lá estava bem perto de nós o Pedro Coelho, que se tinha sumido.
Acontece porém que devido ao cansaço, combinou-se que o pessoal deveria encontrar-se em Hassi Bel Guebbor, um povoado com uma rua asfaltada com uns 100.00mts, uma bomba de combústivel, uma “loja” a qual tinha acoplado um gerador que roncava que se fartava.
Dizia o mapa Michelin que alí havia um ponto de “eau mauvaix”, bom mas era água e era isso que interessava, pese embora ser sulfurosa, até a pele “limpava”, Lembro-me perfeitamente de lavar a cara e aquilo ardeu “prachuchu”, mas não havia mais nada.
Mas antes disso como referi o pessoal devria reagrupar a caravana em Hassi Bel Guebbor que ficava a uns 30 kms, foi-nos dado o rumo e toca andar até ao asfalto.
Até ao asfalto tudo bem, mas ao entrar no asfalto, viramos a direita e toca andar a prego a fundo, só que era para a esquerda, mas só notamos quando chegamos a Bord Omar Driss a uns 30 kms.
Aproveitamos para atestar os dois tanques do UMM, levava 2×80 litros em dois depósitos, e foi a loucura , sempre prego a fundo, tão a fundo que numa curva apertada e com o UMM super carregado iamos indo por um desfiladeiro abaixo, não fosse o Zé Metello um bom condutor.
Chegamos junto do resto da caravana e foi a alegria total, pese embora o grande raspanete do Villas Boas.
Bem, mas não foi tudo mau, comemos todos cabrito grelhado a moda Touaregue, bem bom, pudera não havia mais nada.

Montamos a tenda, não os “burros” e foi descansar porque ao nascer do sol, tinhamos de bazar.

Queria dizer que devido aos atrasos nas fronteiras, as etapas tinham em média 700 kms.

Dia 26 de Março de 1992

Saímos de Hassi Bel Guebbor bem cedo, porque o dia ia ser duro, fomos por alcatrão até ao cruzamento dos “4 Chemins”, ponto importante de várias rotas, este nome ainda hoje não sai da minha memória e vou por lá imensas vezes com os olhos fechados, ainda hoje conseguia lá ir sem GPS ou mapa.

Entramos pela esquerda, avançamos uns 20 kms a rumo 180º e depois inflectimos para a esquerda e lá fomos nós, prego a fundo, entregues a nós e ao Villas Boas, que só se orientava por mapa, bússola e régua de escalas, era impressionante, nunca vi nada igual, um bom navegador.

A pista era dura, muito dura, o ritmo era impressionante, era preciso chegar a Tamanrassett.

Mas comos sempre a pressa é inimiga  e o nosso amigo “Pavarotti”, de manhã a atestar o UMM com óleo, esqueceu-se de apertador a tampa do óleo e o nosso UMM, chupou tanta areia que poliu os pistons e começou a deixar muito fumo. Mas nada que não se resolvesse, pendurou-se pela frente o UMM ao camion Mercedes e toca de levar o bicho até Tamanrassett.

Com estes imprevistos acabamos por dormir algures perto de uma duna como sempre. Fizemos uma boa jantarada, beberam-se uns copos de tinto.

Dia 27 de Março de 1992

Alvorada as 5.00 horas da matina, em direcção de Amiguid, seja fizemos numa pista dura 70 kms numa 1.10 horas, foi obra pessoal. Atestamos os carros e partimos para mais 70 kms onde paramos para reagrupar a caravana.

Dia 28 de Março de 1992

Só hoje é que chegariamos a Tamanrassett, que de agora em diante será “Taman”.

Chegamos à meio da tarde, pelas 15.30 horas.

A cidade era imponente, moderna, com muita cor e energia, tal como eu a idealizava, uma cidade a entrada do deserto às “Portas do Deserto”.

Fomos para um Parque de Campismo moderno, com boas instalações, um restaurante razoável e bons wcs.

Montamos a tenda, arrumanos o material, reapertamos e lubrificamos o UMM, mudamos os filtros e fomos tomar o 1º banho em 11 dias.

Aproveitei para lavar a roupa, arrumar bemtoda a comida e reabastecer os stocks de água e combustível, seja os 160 litros dos depósitos mais 160 litros dos jerricans.

A noite fomos comer ao Restaurante, frango assado com salada e mousse de camelo, e pagamos somente 120 dinares, pouca coisa.

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Dia 29 de Março de 1992

Como o tempo era de descanso, fomos tomar eu e o Zé Metello, o pequeno almoço ao Restaurante, seja café, leite de camelo e manteiga, tudo a maneira.

Fui a cidade a pé, visitar o mercado, comprar um postal para mandar para a Rosa Maria e fui aos correios .

Mas como tudo não é perfeito, a cidade era um ninho de polícias a civil, que controlavam tudo, passavam o tempo a pedir o passaporte, a ver se cambiavamos dinares a socapa, enfim.

Era tanto “bufo” que decidimos voltar ao Parque de campismo.

Almoçamos no Restaurante, Briques a Tunisiene e bifes grelhados de camelo com batatas fritas.

Pois é, mas o pior estava para acontecer. Como os “Bufos” estavam em todo o lado, eis que o José Manuel Fernandes do Jornal o “Público”, decide montar o telefone satélite que era uma coisa enorme, que dava uma trabalheira enorme a montar, pois tinha um inclinação de acordo com as coordenadas geográficas. Eis que de repente, um dos “Bufos” que estava no Parque e que para nós era um vigilante, avança e prende o Zé Manuel, vem um carro que recolhe o telefone satélite e vai tudo para o Posto da Gendarmerie.

O Zé Manuel, sofre um interrogatório violento, os nossos carros são revistados mais que uma vez, mas depois de tanta preocupação pelas 2,30 horas lá chega o Zé Manuel e o UMM do Portela que também teve problemas na cidade.

Como o UMM do Pavarotti, vinha pela assistência em viagem, decidimos canibalizar o UMM, retirando todas as peças do motor que pudessem servir, como bomba de água, bomba de óleo, sei lá bués.

Entretanto durante a tarde o Villas Boas, encetou a contratação de um Guia Touaregue que nos levaria “em segurança” até Gao, já que iriamos entrar numa “Terra de Ninguém”, numa terra de guerilha , numa terra de bandidos armados.

No briefing das 21.00 horas, o Pedro Villas Boas decidido, alertou o pessoal que era urgente sair de Tamanrassett, mas só saímos de lá pelas 19.00 horas do dia seguinte, porque houve problemas no carro do Pedro Coelho, que teve de ser desmontado e montado o motor várias vezes.

A coisa estava a ficar preta, tão preta que o Pocas decidiu voltar para Portugal.

A tensão aumentava na caravana, a polícia insistia em aborrecer o pessoal e nós a espera do Guia, do Guia do embuste, como se viria a constatar mais tarde.

Para terminar este dia queria dizer, que Tamanrassett deve ser o maior posto avançado de venda de carros de luxo roubados na Europa, todos topo de gama que era transaccionados logo de manhã no Parque de Campismo e iam directos para o Niger e Tchad.

Até breve.

Tenho bons amigos desde essa altura.


Comentários

Um comentário a “I EXPEDIÇÃO LISBOA A LUANDA EM TODO TERRENO – 1992 – CONTINUAÇÃO 2”

  1. Mestre,
    é com muito gosto, apesar de actualmente algo afastado, que sigo atentamente a leitura do teu tópico “Memórias”.
    Admiro, sem qualquer duvida, a tua grande força, empenho e dedicação, a tudo e todos os amigos que te rodeiam.
    Sinto orgulho em estar nesse meio…
    Um abraço, beijinhos à Grande Rosa e comprimentos ao Nuno e ao Rui.
    Feliz Natal para todos…